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Sinceridade mata?

Atenção: a seguir, SPOILERS sobre o episódio de Mad Men S04E12, Blowing Smoke

Mad Men já apareceu algumas vezes por aqui e sempre comento no Twitter como a quarta temporada está perfeita para quem trabalha com publicidade, pois a rotina na agência de Don Draper teve mais espaço na série para refletirmos sobre algumas questões.

Em Blowing Smoke, Don dá um belo tapa na cara nos publicitários ao veicular uma carta de página inteira no New York Times sobre como se sentia aliviado pela Lucky Strike ter encerrado um longo contrato com a sua agência, apesar dela ser a conta que sustentava os negócios. De como era bom ter uma noite tranquila de sono por saber que não estará mais ajudando a vender um produto que é nocivo e não deixa as pessoas felizes. Além disso, indicou outras agências que poderiam atender esse tipo de empresa, pois a Sterling Cooper Draper Pryce não aceita mais empresas de cigarro como clientes.

Claro que foi uma estratégia ousada de fazer anúncio para a agência criando um posicionamento que vai contra um produto que rende milhões para ela. Mas, como era de se esperar, os sócios não gostaram disso e não teve resultados imediatos. O que achei interessante é que já tinha discutido esse dilema no ano passado e também alguns comentaram que eu estava louco. Será que é o nosso trabalho ajudar a vender o produto do nosso cliente, custe o que custar?

Como eu falei no podcast do Papo de Gordo sobre publicidade, eu recusaria ter como cliente uma empresa de cigarro, pois acredito que o publicitário pode usar o seu poder de persuasão de forma ética, sem precisa apelar para “mentiras sinceras” e, de vez em quando, usar essa habilidade para ajudar em causas nobres.

Ao contrário de Don Draper, eu durmo bem todas as noites por saber que a minha agência faz campanhas que ressaltam as qualidades verdadeiras do cliente sem dizer que ele é “o número 1 da categoria”, “o melhor” e outros adjetivos vazios que impressionam ninguém. Além de não trabalhar com marcas que ajudam a transformar pessoas em fumaça.

Ao contrário do que muitos pensam, eu acredito que dá para ser sincero quando se trabalha com publicidade. E você?

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5 Comentários

  1. Eu acho que a ética e sinceridade é algo impressindivel na propaganda e não pode faltar. As agências que vender produtos que fazem mal e não discriminam isso estão mentindo descaradamente e eu não concordo nem um pouco com isso.

    Acho que dá pra trabalhar na sinceridade sim.

  2. Acredito que a boa Publicidade é composta pelo encanto e pela verdade.

    De nada adianta fazer uma campanha bonita, sugerindo que o produto “faça milagres” se na realidade ele não é de qualidade.

    Parafraseando Julio Ribeiro, o brilho encanta e a verdade aprisiona.

  3. Concordo com a sua opinião. Entretanto, cabe aqui uma contribuição para temperar melhor o tema.
    Muitas vezes, enquanto funcionários de agências, nos vemos obrigados a trabalhar para clientes que não apreciamos, que são contrários aos nossos princípios e convicções. Clientes que, se fôssemos empresários, nunca iríamos estabelecer parcerias.
    Uma coisa é ter a própria agência e decidir os rumos que ela deve tomar. Outra, é se submeter à cartilha do dono em troca de trabalho e de dinheiro (sim, dinheiro, porque 95% das pessoas no mundo trabalham para pagar contas). É o caso, por exemplo, de se envolver com campanhas políticas.
    Como fazer nesses casos? Dizer não e perder o trabalho em um mercado restrito e que, de maneira geral, não valoriza os profissionais?
    Trata-se mesmo de um grande dilema. Dizer não a tudo que se coloca contrário ao que pensamos é um ideal que não conseguimos, infelizmente, atender com plenitude. É fato. Portanto, julgar é complicado nesse mercado publicitário tão pouco transparente.

    Em tempo: seu blog está a cada dia melhor. Parabéns.

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